segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ônibus Ecológicamente Correto de Hidrogênio

Pronto para uso

Ônibus ecológico totalmente nacional desenvolvido pela Coppe/ UFRJ ganha nova versão com maior autonomia. Movido a pilha de hidrogênio, o veículo não polui o ar e é mais silencioso que os tradicionais.
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 15/06/2012 | Atualizado em 15/06/2012
Pronto para uso
Segunda versão do H2+2, ônibus que não polui o meio ambiente, é ainda mais eficiente. (foto: Sofia Moutinho)
Visto por fora, ele é um ônibus comum. Mas, em vez do poluente motor a combustão, o ônibus H2+2, desenvolvido por pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/ UFRJ), é impulsionado pela energia elétrica gerada por baterias recarregáveis alimentadas com hidrogênio e oxigênio do ar. O único resíduo gerado pelo veículo é o inofensivo vapor d’água.
O ônibus ecológico foi lançado em 2010 e, em plena Rio+20, teve uma nova versão divulgada, agora mais eficiente. Ajustes no sistema de tração resultaram em uma redução de 40% no consumo de hidrogênio. Com isso, o veículo, que tinha 300 km de autonomia, passou a ter 500 km, mais do que os ônibus convencionais.
O H2+2 também está mais barato em relação à versão anterior. Uma parceria com a empresa Tracel tornou possível a produção de suas peças em escala industrial – e não mais de modo artesanal –, o que significou uma queda de 30% no custo de fabricação.
A segunda versão do ônibus tem 500 km de autonomia
Mas o H2+2 ainda é mais caro que os ônibus convencionais. Desde que seu projeto foi iniciado, em 2005, foram gastos 15 milhões de reais. Uma unidade do modelo mais completo (30 assentos, piso rebaixado, câmbio automático e ar-condicionado) sai por um milhão. O preço do hidrogênio usado para abastecê-lo também é mais elevado que o do diesel, usado nos ônibus com motor a combustão.
No entanto, o coordenador do projeto do H2+2, o engenheiro Paulo Emílio Miranda, lembra que o alto custo é resultado da novidade do produto, que ainda é produzido em pequena quantidade, e ressalta que, se comparado com os impactos negativos do motor a diesel, o investimento vale a pena.
“Quando se diz que o diesel é mais barato, é barato porque ninguém paga pelo mal que ele causa, não só ao meio ambiente, mas também à saúde humana, com a emissão de gás carbônico e material particulado que se aloja no sistema respiratório”, afirma. “Nossas cidades gastam bilhões para tratar a população, mas quem é responsável pela poluição não paga por isso.”
O ônibus a hidrogênio ainda se aproveita da energia cinética da frenagem e da aceleração para gerar energia elétrica, de modo similar aos carros de Fórmula 1. Com esse truque, foi possível acrescentar no seu interior tomadas e conexão wi-fi para uso dos passageiros.

Tendência mundial

Miranda acredita que o uso do hidrogênio é a tendência mundial em termos de transporte ecológico. “É o combustível do futuro”, afirma. “Nossa própria história de consumo de combustíveis caminha para o hidrogênio. É só ver os combustíveis que nossa sociedade vem usando desde a revolução industrial: madeira, petróleo, gás natural; a quantidade de carbono nos recursos utilizados tem diminuído e a de hidrogênio aumentado. É inevitável; com o aumento da população mundial vamos precisar de mais energia e mais limpa.”
Miranda: "É inevitável; com o aumento da população mundial vamos precisar de mais energia e mais limpa."
No Japão, pilhas de hidrogênio já são usadas para gerar calor e energia elétrica. Na Europa, a substância também é aposta para os transportes. Em 2006, nove cidades europeias começaram a usar em fase de testes ônibus movidos somente a hidrogênio. O ônibus europeu, no entanto, é menos eficiente que o brasileiro: consome 14 quilos de hidrogênio por 100 quilômetros rodados, enquanto o H2+2 gasta somente 5 quilos para o mesmo percurso.
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Ônibus movidos a hidrogênio já circulam, em fase de testes, por nove cidades da Europa desde 2006. (foto: Cute Project)
Apesar de ser um combustível que não gera qualquer poluente, o hidrogênio nem sempre é ecológico em sua origem. Para sua obtenção, são necessários processos químicos que não necessariamente são limpos. Atualmente, a forma mais usual e barata de produzi-lo é por meio da reforma a vapor do gás natural em refinarias de petróleo.
No entanto, Miranda lembra que é possível conseguir hidrogênio em larga escala a partir de biogases provenientes de rejeitos da agricultura, criação de animais e até esgoto humano. Outra opção, mais complexa, é a eletrólise, processo no qual a molécula de hidrogênio é ‘extraída’ da água com o uso de uma corrente elétrica. Para ambos os casos, segundo o pesquisador, o Brasil tem potencial para se tornar um grande produtor da substância, que, se produzida de forma limpa, tornaria o H2+2 ainda mais ecológico.

Realidade já

Em 2010, quando o primeiro ônibus a hidrogênio da Coppe foi apresentado, divulgou-se que ele começaria a rodar pela cidade ainda naquele ano, dentro da Cidade Universitária, na ilha do Fundão (Rio de Janeiro), e em uma linha especial até o Aeroporto Internacional do Galeão. Apesar dos convênios firmados com a prefeitura, o governo do estado e a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) na época, a ideia não saiu do papel.
Segundo Miranda, o projeto teve que ser abandonado por falta de infraestrutura, pois o Rio de Janeiro ainda não conta com pontos de abastecimento de hidrogênio e o ônibus ainda era um protótipo. Agora, no entanto, o pesquisador acredita que o veículo, já aperfeiçoado, está mais do que pronto para comercialização. “Ele não é mais um desenvolvimento laboratorial”, diz. “O que falta para ele ser comercial é usá-lo.”
Para Miranda, a implantação do ônibus dependeria de compras governamentais e novas formas de incentivo à tecnologia verde
Segundo o engenheiro José Lavaquial, representante da Tracel, algumas empresas já mostram interesse em adquirir o H2+2. Mas, para Miranda, a implantação do ônibus ecológico dependeria das compras governamentais, da criação de corredores especiais onde o veículo pudesse ser abastecido e de novas formas de incentivo à tecnologia verde. “A melhor chance que temos para que a tecnologia limpa entre rapidamente no mercado seria a existência de legislação que induzisse isso, como existe na Califórnia”, comenta.
Apesar da inexistência de leis desse tipo, créditos como os oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para veículos menos poluentes podem ser um incentivo. “Dificilmente vamos ver convertida a frota de 65 mil ônibus do Brasil e de 17 mil do Rio de Janeiro de uma vez só”, pontua Lavaquial. “Mas essa conversão pode ocorrer de forma gradual. A cada cinco anos, as empresas de transporte são obrigadas a renovar 20% da frota. Com essas linhas de crédito, elas podem renovar com o nosso ônibus não poluente.”
Um protótipo do H2+2 já está em funcionamento durante a Rio+20, fazendo o traslado do Parque dos Atletas até o Riocentro. Além disso, o banco Santander disponibilizou uma linha de crédito especial voltada para prefeituras interessadas na compra dos ônibus. E Miranda reforça: “O ônibus está pronto, se o governo tiver interesse, ele poderá muito bem ser usado na Copa do Mundo”.

Sofia MoutinhoCiência Hoje On-line

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Bibliografia: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2012/06/pronto-para-uso

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